No dia em que este avançado aterrou em Everton, depois de o seu negócio se ter concretizado no final da janela de transferências de verão de 2023, havia já uma mensagem à espera na caixa de entrada do Instagram:
— “Fico feliz por ti”. Era essa a mensagem. “Se precisares de qualquer coisa nesta cidade, eu posso ajudar. Só tens de me enviar uma mensagem.”
A mensagem vinha de Diogo Jota.
Na altura, Beto ainda não conhecia o Jota. Mesmo sendo compatriotas, o facto de um jogador do Liverpool — rival da mesma cidade — ter tomado a iniciativa de o contactar para o fazer sentir bem-vindo diz muito sobre o tipo de pessoa que Jota é.
Beto contou: “Entre todas as grandes estrelas portuguesas que jogam em Inglaterra, ele foi o primeiro a mandar-me mensagem. No dia em que assinei ou no dia seguinte. Depois também recebi mensagens do Bernardo Silva e do Bruno Fernandes, mas ele foi o primeiro.
Não somos amigos, mas sabes como é: quando jogas com jogadores portugueses, por vezes parámos para conversar um pouco. Depois de cada jogo contra o Liverpool, normalmente trocamos algumas palavras. Eu pergunto: ‘Como tens estado?’ Não só porque é português, mas porque ele é mesmo uma pessoa amável e humilde. Podes ver que toda a gente fala assim dele.
No dia em que aquilo aconteceu, eu estava em casa, em Portugal. Eu ia apanhar um voo para Manchester para regressar para a pré-época. Fiquei chocado. Fiquei mesmo chocado porque o Diogo é um rapaz incrível.”
Beto, juntamente com outro jogador português, Youssef Chermiti, juntou-se ao embaixador do Everton, Ian Snodin, para depositar uma coroa ao lado do cachecol do clube no mar de flores junto ao Main Stand. Também assinaram o livro de condolências.
A cena em Anfield estava carregada de dor, mas no meio da perda Beto encontrou algo de reconfortante ao estar presente. Uma lembrança de que, apesar da hostilidade que existe nos 90 minutos dentro de campo, às vezes um gesto humano e um pouco de empatia brilham mais alto.
“Percebi a ligação entre o Everton e o Liverpool”, disse Beto. “Entre os dois clubes, mas acima de tudo entre os adeptos. Muitos adeptos do Everton ficaram tristes, porque apesar de ele ser um adversário, isto é a vida. A vida está acima do futebol.
Gosto muito das pessoas de Liverpool, porque são pessoas muito, muito simpáticas. Às vezes vão odiar-te. Na verdade não é bem ódio, é apenas não gostarem de ti por jogares no clube rival. É normal. Para mim não faz diferença. Às vezes dizem: ‘Beto, és péssimo. O Virgil van Dijk vai comer-te vivo. Vamos destruir-vos. Vamos fazer isto e aquilo.’ Mas quando chega a esses momentos, quando se trata de coisas de vida ou morte, eles estão unidos porque são gente.
Se eu for a Anfield e me vaiem ou assobiarem, é normal. Eles não vão pensar: ‘Oh, o Beto é boa pessoa porque foi pôr flores por causa do Diogo.’ Não. Eles vão lá é por causa do futebol.”